Pós-verdade, "O Dilema das Redes" e os zumbis digitais - * O texto a seguir contém spoilers.
O documentário com roteiro e direção de Jeff Orlowski mostra o lado perigosíssimo com que a revolução tecnológica acontece e o modo como influencia a vida de bilhões de humanos ao redor do mundo.
Lançado pela Netflix, "O Dilema das Redes" traz revelações bastante preocupantes através de depoimentos de ex-funcionários do Google, do Facebook, do Twitter, Youtube, etc, e de como as mídias sociais podem influenciar desde o comportamento de um pré-adolescente até o comportamento social de um grupo de pessoas. Há um sistema de modelamento nas relações sociais totalmente novo, impactando a sociedade que até os próprios entrevistados têm dificuldades em definir.
A forma de compreensão, interpretação e de percepção do mundo, alterada virtualmente através de algoritmos determina como uma pessoa pode interagir com outros grupos sociais. Se por um lado a tecnologia é necessária, o problema está centrado na linha divisória entre o que realmente é necessário e o quanto podemos ser estimulados, impulsionados e manipulados pelos algoritmos, de acordo com o que anunciantes investem para que recebamos uma carga cada vez maior de informações, que nem sempre refletem a realidade. Mega corporações apostam bilhões de dólares para manter as pessoas "logadas".
O modelamento social é praticamente imperceptível e ocorre de forma inconsciente nos indivíduos, mudando comportamentos, modos de vida e de interação social. A frase inicial do documentário de autoria de Sófocles, "Nada grandioso entra na vida dos mortais sem uma maldição", combina com o que todo o documentário mostra. E as informações, vindas de gente que trabalhou na construção de tudo isso são muito assustadoras.
É muito preocupante o fato de as mídias sociais permitirem o espalhamento de informações sem que haja algum tipo de filtro. É citado durante o documentário que fake news se espalham seis vezes mais rápido do que notícias verdadeiras. Isto causa um desequilíbrio social no comportamento humano, pois na era da Pós-verdade, a desinformação pode ser usada por grupos radicais, extremistas, teóricos de conspirações, etc, ao ponto de trazer uma polarização política que pode causar até crises em sistemas democráticos. Não se espante se muita coisa lembrar "A Era dos Extremos" do Eric Hobsbawm, pois a Guerra Fria acabou, mas o radicalismo de muitos grupos ainda continua, mesmo que seja preciso inventar inimigos imaginários.
Muito bem produzido, ora estamos assistindo a uma dramatização, onde de repente o diretor nos puxa bruscamente pelo braço e nos avisa: "Não é ficção. É realidade. E está acontecendo".
A montagem, utilizando dramatizações em animações ou com atores, funciona de forma muito inteligente, mesclando com o que o documentário tem a dizer. Tudo no filme funciona perfeitamente: roteiro, direção, edição e montagem, fotografia. Ou seja, além de extremamente essencial, "O Dilema das Redes" é uma aula de como se fazer um excelente documentário.
Vi e fiquei completamente chocada, assustada!
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