LEO 1313 (1997) - Direção: Betse De Paula - A era das "carteiradas"

O curta-metragem segue um passeio de  um homem num carro conversível pelas ruas de Brasília. Tudo corre tranquilamente para ele, até o momento que um ônibus lotado aparece em seu caminho. Esta sinopse diz um pouco sobre a trama do curta, entretanto, apesar dos seus 23 anos, ele é bastante atual.

LEO 1313 faz uma ironia com o costume que muitos brasileiros têm de tentarem resolver as coisas na base da "carteirada". Se um desembargador humilhar um guarda municipal já é algo vergonhoso, o que podemos pensar de um morador de um condomínio de classe média se vangloriando da possibilidade de um motoboy nunca poder ter uma vida como a dele (segundo ele)? E pior: quando uma pessoa perde totalmente a noção do ridículo ao dar uma "carteirada" num fiscal da prefeitura do Rio de Janeiro com o argumento: "Cidadão não. Engenheiro civil formado, melhor que você"? 

A "carteirada" está associada ao apelo à autoridade. Uma pessoa se utiliza de uma condição para demonstrar estar socialmente acima de outra. Porém, atualmente qualquer um acha que pode dar qualquer "carteirada" em qualquer pessoa. Chegamos num nível patético de normatização das "carteiradas". 

Muitos podem alegar que o curta LEO 1313 seja profético, mas não. Ele apenas demonstra a pequenez de pessoas que não apenas preferem o "ter" (apesar de não terem) no lugar do "ser", mas o de "aparentar ter".  É aí que ficamos sem ter como discordar da Marilena Chauí, quando ela se refere a uma parte da classe média como uma abominação social.



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