RxDxP 40 anos: mais atual do que nunca

No início da década de 80, Jão formou a Ratos de Porão, juntamente com seu primo Betinho, na bateria, e Jabá, no baixo. Com algumas alterações na formação da banda, ainda no início, Jão tocava guitarra e fazia o vocal. Mas a banda começou a se destacar com a entrada de João Gordo no vocal em 1983. 

Já com o lançamento do primeiro álbum próprio de estúdio, "Crucificados Pelo Sistema" (1984), o Ratos de Porão começou a enfrentar a acusação de traição do movimento Punk, por aderirem ao Hardcore e, principalmente, pela aproximação com o Crossover e o Metal, mais evidentes nos discos posteriores, "Descanse em Paz" (1986) e "Cada Dia Mais Sujo e Agressivo", de 1987.

Fato é que todos os outros discos lançados pelo Ratos de Porão são de extrema qualidade musical, transitando entre gêneros e transformando a banda em referência para muitas outras, inclusive de Punk Rock Hardcore.

As letras do Ratos de Porão, são verdadeiras leituras histórico-sociais dos últimos 40 anos. Desde de "Crucificados Pelo Sistema", até o último disco lançado, "Século Sinistro", de 2014, o Ratos de Porão faz radiografias político-sociais-econômicas de questionamentos, contestações e resistência.

Mesmo com quase meio século de existência, tendo desde 2004 a mesma formação: Gordo (vocal), Jão (guitarra), Juninho (baixo) e Boka (bateria), o Ratos de Porão mostra muita vitalidade, originalidade e que ainda tem muita lenha pra queimar. E, diga-se de passagem, mantendo a pegada Punk, que muitos acusaram deles terem sido traidores. Não tem como não deixar de falar sobre o Especial da Vans, em comemoração aos 40 anos da banda, e do depoimento do Mao Júnior, ex-vocalista do Garotos Podres, e atualmente, O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos. Segundo ele, muito dos punks que acusaram o Ratos de Porão de traição ao movimento Punk, hoje são admiradores do neofascismo bolsonarista de extrema-direita. Mudar a estética de som não fez do RxDxPx traidores do movimento, mas sim, inovadores no estilo musical; a atitude sempre esteve presente.

Ler atentamente as músicas do Ratos de Porão, levanta questionamentos sobre as desigualdades sociais, a hipocrisia religiosa e moral, a violência estatal através do seu braço armado: as polícias militares. "Amazônia Nunca Mais", dos disco Brasil, de 1989, "Onisciente Coletivo", do álbum de mesmo nome (2003), e com participação de Rappin Hood, ou "Expresso da Escravidão", do álbum Homem Inimigo do Homem (2006), parecem ter sido escritas exclusivamente para o momento atual, assim como várias outras canções.

O Ratos de Porão, que tem músicos como o Jão, que destrói na guitarra, Juninho, que detona no baixo, Boka, que é um animal na bateria, e o Gordo no vocal, não é apenas referência no Punk Rock, ou no Crossover, ou no Metal. O Ratos de Porão e a sua discografia são referências para qualquer pessoa, independente de gosto de gênero musical. As letras, na maioria das vezes, compostas por João Gordo e Jão, merecem ser estudadas, além de ouvidas. 


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