"Um Príncipe em Nova York 2" não foi nada do que eu esperava (contém spoilers)

Decepção! Isto define a minha sensação ao assistir a sequência da clássica Comédia dos anos 80. Porém, assisti sabendo que sequências produzidas muito tempo depois, em muitas vezes, podem não ter o efeito desejado.

O filme tem lá seus acertos, porém as escolhas erradas anulam quase que praticamente os acertos. Assistir a "Um Príncipe em Nova York 2", me lembrou em muitos aspectos "Debi & Lóide 2", embora um seja sequência de uma Comédia pastelona enquanto o outro é sequência de uma Comédia Romântica. Embora os personagens de Jeff Daniels e Jim Carrey tenham conseguido segurar bem a trama nos atos 1 e 2, no terceiro ato de "Debi & Lóide 2", ambos foram totalmente esquecidos. No caso da sequência do filme de Eddie Murphy, o filme poderia ter até outro nome, tipo "As Aventuras de um Afro-americano em Zamunda", pois o Eddie Murphy ficou praticamente apagado (ainda mais pelas características do personagem do primeiro filme) e contribuiu muito pouco para a trama. Não vimos ele em cenas cômicas e o seu filho, Jermaine Fowler, que interpreta o personagem Lavelle Junson, não tem nem de longe o carisma de Murphy e propiciou pouquíssimas cenas que conseguissem mostrar que aquilo era um filme de Comédia. 

Em termos de referências e nostalgia, o longa até que vai bem, principalmente com os outros personagens reinterpretados tanto por Murphy quanto por Arsenio Hall e que aparecem novamente. Mas o problema está aí: só isso não é capaz de sustentar a trama.

O filme, desde o primeiro ato apresenta talvez a melhor surpresa: o personagem interpretado por Wesley Snipes, que conseguiu ser caricato, mas engraçado, com seus trejeitos e com a forma como lidou ameaçando Zamunda. E também nos apresenta a questão da tradição, das mudanças do mundo e das readequações necessárias sobre o papel da mulher na sociedade. Essa questão foi apresentada e repetida várias vezes ao longo do filme. E não precisava das repetições: já na primeira vez em que se tocou no assunto, sobre a possibilidade da filha estar preparada para assumir o trono, o espectador já sabia que, uma hora ou outra, ia ter alguma situação em que ela iria agir, demonstrando que realmente reunia condições de governar Zamunda e do empoderamento feminino. Isso poderia ser melhor aproveitado, com uma melhor construção da personagem ao longo do filme, mostrando cada qualidade dela conforme o roteiro pedisse, e não atirando logo de cara, pro espectador ficar sentado lá na frente, esperando a sequência de Ação.

Os personagens de Eddy Murphy e Arsenio Hall foram praticamente nulos. Eu não sei vocês, mas eu esperava que ambos passassem por apuros e aventuras procurando pelo filho no Queens. O roteiro poderia criar inúmeras situações cômicas dentro dessa perspectiva, sem abandonar a proposta da ameaça do General Eazie contra Zamunda. 30 anos depois, o agora rei e seu escudeiro poderiam passar por muitas situações hilárias, já que Nova York mudou muito nestas três décadas e Zamunda, muito pouco. E as piadas poderiam ser outras, afinal os dois personagens estão 30 anos mais velhos. Os realizadores perderam uma ótima oportunidade de explorarem o máximo do que os dois veteranos tinham a oferecer. Mas por limitação do roteiro, ambos não puderam fazer muita coisa.

Outra possibilidade seria: já que encontrou rapidíssimo o herdeiro do trono, poderia levar a família toda e criar as situações cômicas com o choque cultural deles em Zamunda. Tinha conteúdo pra preencher muito bem todo o segundo ato. Do jeito que foi feito, conseguiram deixar até o personagem do Tracy Morgan como um peso morto no filme, num "tanto faz, como tanto fez" ele estar ali no elenco.

Outro erro repetitivo e cansativo da equipe criativa foi o excesso de músicas e danças. É uma Comédia ou um Musical? Não é nem um e nem outro. É uma Comédia Romântica "basicona" e com todos os clichês do gênero. E como recriar a situação de 1988 em 2020, colocando outra pessoa no lugar do personagem no Eddie Murphy? Pegando um personagem insoso e mal trabalhado, juntando com uma personagem que caiu de paraquedas no momento exato em que o roteiro precisou, e criar um romance boboca entre eles. Tudo na medida certa, no tempo certo, e previsivelmente certo também. Aliás, no tempo certo não, mas antes. Afinal qualquer um que tenha assistido a pelo menos 10 filmes de Comédia Romântica já sabia o que ia acontecer entre o personagem de Jermaine Fowler e seu par romântico e como as coisas iriam se desenrolar.

"Um Príncipe em Nova York 2" foi muito bem nas referências ao primeiro filme, trazendo nostalgia até nos relembrando de "Trocando as Bolas". Foi muito bem no figurino e na fotografia. O problema foi o resto. E quando o "resto" compromete uma produção, o problema é grande. É um filme pra passar o tempo e mais nada.

Você pode assistir "Um Príncipe em Nova York 2" na Amazon Prime, se estiver com 110 minutos sobrando.

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