Carro de Bois (1974) - Direção: Humberto Mauro

O documentário em curta-metragem dirigido por Humberto Mauro nos traz importantes informações do que foi por muito tempo um dos mais comuns meios de transportes de produtos agrícolas do Brasil.

Com narração de Hugo Carvana, e com tom melancólico e poético, o filme trata, já em 1974, da substituição do carro de boi por meios de transportes mais modernos.

De forma detalhada, nos é mostrado todos os componentes da estrutura de um carro de boi. Além disso, a sua capacidade de transitar em terrenos de difícil acesso. Presente em praticamente todo o filme, o "canto" do carro de boi preenche as imagens captadas juntamento com uma fotografia impecável.

Não tem como não remeter à nostalgia, ainda mais para quem cresceu no Vale do Paraíba paulista e, em passeios em família, por pequenas estradas de terra da região, vez ou outra, passava por um carro de boi. Assim como os alambiques de aguardentes da região, o carro de boi é um patrimônio histórico-cultural, não só do Vale caipira, mas de todo o Brasil, pois foi dos principais meios de transportes de cargas em todos os estados do país.

                             Carro de Bois, pintura de Rodrigo Silva

Humberto Mauro mostra como os carros de boi foram retratados por vários artistas ao longo da história, dada a sua importância, desde os tempos do Brasil-Colônia. Diversas pinturas apresentam esse meio de transporte, como figura central, ou como parte da paisagem.

Também na música, o carro de boi ficou imortalizado na voz de Pena Branca e Xavantinho, na belíssima canção "Poeira", de autoria de Luíz Bonan e Serafim C. Gomes. Mas outros artistas homenageiam o veículo, como na composição "Carro de Boi", de Ronaldo Viola e Donizete Santos. Porém, mais condizente com a proposta do documentário, a música "Carro de Boi", composta e gravada por Tonico e Tinoco combina mais com o tom desanimado sobre a troca do veículo rudimentar por outros mais modernos.

Primitivo e simples, introduzido pelos portugueses, os carros de boi foram comuns em todos as regiões do país. Desde o século XVI passou a fazer parte de um Brasil com vocação para a produção rural. Destaque para o trabalho de Ambrósio Fernandes Brandão, "Diálogos das Grandezas do Brasil" do século XVII, que segundo Capistrano de Abreu, faz referências ao carro de bois: "É necessário que tenha (…), 15 ou 20 juntas de bois com seus carros necessários aparelhados (…)”, e mais adiante, “A vaca, sendo boa, é estimada a (…), e o novilho, que serve já para se poder meter em carro, a seis e a sete mil réis (…)”.

Mesmo com o avanço tecnológico ainda é comum em alguns lugares a existência dos carros de bois, como é o caso da cidade goiana de Trindade, que tem um tradicional desfile deles durante a Festa do Divino Pai Eterno. Ou seja, nos rincões espalhados pelo Brasil, o carro de boi ainda se faz presente.



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