Minha história com Orlando Silva

Em novembro de 2017 eu fiz uma descoberta através de um material guardado por décadas pela minha falecida mãe. O material guardava uma história, mantida em segredo, por mais outras tantas décadas anteriores. Datado de 1937, ele me proporcionou a escrita de meu primeiro roteiro de longa-metragem.

Por se tratar de uma história real, precisei fazer muitas modificações: cidades, datas, nomes, contextos etc. Todo o primeiro ato girou praticamente em torno de lembranças da minha infância e da vida adulta, até a "descoberta" do material. O segundo ato, um romance entre duas pessoas, foi basicamente inspirado no conteúdo descrito no material. E confesso: tinha muita história. Portanto, ele me propiciou imaginar e criar muita coisa a partir dele e do que havia escrito em suas linhas. 

Estudar a década de 30, o Rio de Janeiro dos anos 30, as relações sociais da época, as canções... Eis que me deparo, pesquisando as músicas mais tocadas, nomes conhecidos como Aracy de Almeida, Francisco Alves, Carmen Miranda, Silvio Caldas, Lamartine Babo, dentre outros. E claro, Orlando Silva.

Sabia que Orlando Silva foi um dos maiores nomes da música brasileira e já conhecia algumas de suas músicas. Mas o que tinha passado despercebido por muito tempo, me chamou atenção naqueles meses, entre 2017 e 18, quando rascunhava o futuro roteiro, até o início de sua escrita: A Rosa. A valsa foi gravada pela primeira vez por Pixinguinha, em 1917. 

A Rosa foi um enorme sucesso, principalmente após a regravação feita por Orlando Silva, em 1937. Exatamente a data do caderno descoberto entre as coisas que minha mãe guardou; heranças em forma de livros, cadernos manuscritos, álbuns de fotografias, que pertenceram a meu avô e uma tia-avó. Tinha fragmentos das histórias de ambos em minhas mãos. E uma parte bastante interessante, e um segredo, até então.

A Rosa, me marcou durante a escrita do roteiro porque uma das personagens tinha um grande jardim em sua casa. A presença da rosa preenche vários pontos do segundo e terceiro atos. A rosa marca as personagens, unindo-as para sempre, mesmo com a distância imposta posteriormente. E a letra da canção A Rosa, praticamente expressa muito do que há entre as personagens na trama.

Também conhecida na voz de Marisa Monte, A Rosa tem divergências sobre a autoria de sua letra. O próprio Pixinguinha afirmava que o autor era um homem de nome Octávio de Souza. Porém, alguns estudiosos, atribuem que seria na verdade de autoria de Cândido das Neves, parceiro de Pixinguinha em “Página de dor” e outras músicas.

Cresci ouvindo Punk Rock e Hardcore - meus gêneros favoritos. Mas sempre gostei de MPB, Sertanejo Raiz, Rap, Metal, Hard Rock, e terminei por virar fã do Orlando Silva. A Rosa não ficou apenas no roteiro, na vida das duas personagens, mas na minha própria, passando a ter um significado especial. A Rosa me inspirou em vários momentos, tanto quanto estava pensativo imaginando cenas e sequências que poderiam entrar no roteiro, como quando estava com a "mão na massa", escrevendo e tendo aqueles estalos de ideias repentinas e fora do planejado, recriando alguma coisa, alinhando ideias, com o conteúdo do manuscrito e com a letra da música.

E essa foi a minha história com Orlando Silva e de como ele me ajudou a escrever um roteiro.



                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          


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