Tempo (2021) - Direção: M. Night Shyamalan (Contém spoilers)

Tem mais ou menos um mês que assisti o novo filme do Shyamalan. Lançado em 29 de julho de 2021, Tempo, apresenta uma família que decide se hospedar num hotel localizado num lugar paradisíaco. Porém, o passeio deles e de outros hóspedes se torna um pesadelo quando são convidados para uma praia onde estranhos fenômenos relacionados com a passagem de tempo começam a alterar rapidamente a vida de todos.

Primeiramente vou me ater a dois fatos. O primeiro de que depois de Sexto Sentido (1999), Corpo Fechado (2000), Sinais (2002) e A Vila (2004), muitas pessoas se decepcionaram com o restante da filmografia do M. Night Shyamalan. Talvez a exceção seja Fragmentado (2016), apesar de eu ter gostado mais de A Visita (2015). Desta forma, o cineastra indiano é amado por uns e odiado por outros. O segundo fato é que a premissa realmente é interessante, curiosa e misteriosa, mas vai se desgastando ao longo do filme, assim como a filomografia de Shyamalan. 

Talvez o erro principal do Shyamalan seja querer explicar demais tudo o que acontece o tempo todo. Têm filmes que quanto menos explicações houver, melhor. A dúvida que paira num final de filme muitas vezes é melhor do que um final didaticamente transmitido para o expectador.

Não estou dizendo que Tempo, seja um filme ruim. Eu gostei, mas com ressalvas. Gostei, sabendo das limitações do próprio filme. E não são limitações orçamentárias, mas limitações que o próprio roteiro colocou e que poderia não ter sido colocadas; além de duas "trapaças" no final que imagino que estragaram a experiência de muitos e que vou explicar na minha conclusão.

Chegando na praia, lógico que as pessoas iriam perceber rapidamente que algo de estranho estava acontecendo ali. Mas cada personagem chegava a conclusões exatas de forma muito rápida. Sempre que necessário, um ou outro personagem tirava da cartola uma conclusão definitiva sobre o local. E a cada descoberta, um morria. E isso cansa, ao ponto da gente ficar assistindo e esperando o tempo passar, com o pensamento: "qual vai ser o próximo a se fudê e como ele vai se fudê?". O diretor perdeu uma ótima oportunidade de chamar o expectador pro lado dos personagens e raciocinar juntos sobre o que poderia causar aquilo e como escapar dali, sem tanto estardalhaço.

O filme tem alguns movimentos de câmeras muitos bons, que realmente causam bastante desconforto e angústia. E esse foi um acerto, porque nos dá a sensação de desorientação e de estarmos perdidos. Mas junto a este acerto temos alguns diálogos fora do lugar. E não estou falando do médico demente. Estou falando de diálogos que são quase digressões dentro da trama. 

Sobre o final, eu achei a resolução boa e interessante, mas com ressalvas. A temática sobre o objetivo de levar pessoas para lá, gera boas discussões. 

Mas aí vem as "trapaças" que me incomodaram. Os irmãos encontram um caderno onde é descrito tintim por tintim tudo o que acontece ali. Imagino que até um físico quântico teria dificuldades em descrever o que acontece naquela praia com tanta exatidão, mas a pessoa que escreveu no caderno, o fez como se conhecesse aquele lugar intimamente, o que exigiria dela: tempo. E tempo é exatamente o que falta ali. Mas vamos imaginar que foi um gênio com QI elevadíssimo que esteve ali e escreveu aquele caderno. Ok, beleza, a pessoa concluiu aquilo porque realmente era inteligentíssima. Aí vem a segunda "trapaça" do roteiro. O bilhetinho do menino.

O sobrinho do dono do resort sabia sobre o que acontecia naquela praia. Ele deu a dica pro outro garoto de como escapar dali. Ele decodificou o enigma criado por ele, justamente na hora em que o filme precisava entrar na resolução final. Seria muito mais agradável ver os irmãos encontrando a saída por insistência ou por sorte. Mas o diretor achou que seria uma ótima ideia o garoto (agora adulto) trocar os símbolos pelas letras e saber com facilidade como escapar dali. Eu, como fã do Arquivo X, que vi muitas vezes Fox Mulder e Dana Scully escaparem de situações incríveis, achei essa fuga dos irmãos um verdadeiro tapa na cara de quem gastou mais de 80 minutos assistindo. Poderia os irmãos descobrirem num lance de sorte e não através de um bilhete que foi apenas uma catapulta pra jogar o filme pro seu final.

Mas enfim, Tempo é um filme de Mistério e Suspense que vale a pena ser assistido sem grandes pretensões e sem criar grandes expectativas. Está muito longe de ser bom quanto O Sexto Sentido, mas também está longe de ser ruim como Fim dos Tempos ou Depois da Terra.



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